Aids não é passado e está mais viva do que nunca

Diagnósticos positivos cresceram e, até mesmo, entre os idosos

Uma doença que assombrou o mundo na década de 80 e 90 e que matou mais de 30 milhões de pessoas. A Aids mudou o comportamento sexual e foi durante muito tempo o pior pesadelo da humanidade. Foi? Dados do Programa Municipal de DST/Aids revelam que a doença está mais viva do que nunca e que aumentou em Campo Grande o número de pessoas vivendo com o vírus.

De acordo com Larissa Plenamente Ramos, enfermeira e Gerente Técnica do Programa, de 2011 até 2015, 913 pessoas foram diagnosticadas com Aids na Capital, ou seja, que estão com o vírus mas nunca tiveram os sintomas da doença. A incidência, segundo o Boletim Epidemiológico, é maior entre os jovens adultos com idade entre 30 e 39 anos. “São aqueles que fazem parte da geração que não vivenciou o período crítico da doença e do desenvolvimento da síndrome consumptiva que indica a fase terminal da Aids e que acometeu celebridades como Cazuza e Renato Russo, por exemplo”, explica Larissa.

A gerente afirma que a pandemia da Aids continua a extrapolar todos os continentes e o aumento de diagnósticos positivos tem sido gradativo na Capital. “Com o passar dos anos, com todo o trabalho e políticas públicas desenvolvidas, pensávamos que esse índice diminuísse, mas não foi o que ocorreu”, diz. Para Larissa, a razão é o discurso utilizado nas campanhas contra a Aids que davam ênfase no tratamento. “Falava-se que, tomando os remédios, era possível ter uma vida normal. Era um discurso para combater o preconceito”, lembra.

A terapia antirretroviral, a partir do final dos anos 90, resultou, realmente na queda da morbidade e mortalidade associadas a Aids. No entanto, a enfermeira destaca que viver com o vírus não é tão simples como no discurso. “É uma mudança drástica de vida porque são vários medicamentos além dos hábitos saudáveis e abandono de vícios que a pessoa terá que adotar porque tudo tem que colaborar para controlar o vírus e não ter complicações decorrentes da doença”, afirma.

Hoje, a luta contra Aids, define Larissa, é uma via de mão dupla e tem foco na prevenção junto dos que não tem o vírus e dos que já estão infectados. A contínua atenção ao HIV é um dos alvos do Ministério da Saúde que reafirmou em 2015 a meta 90-90-90 que consiste em ter 90% das pessoas com HIV diagnosticadas; deste grupo, 90% seguindo o tratamento; e, dentre as pessoas tratadas, 90% com carga viral indetectável.

Vírus democrático

A estimativa é que 734 mil pessoas vivam com o HIV em território nacional. Os adolescentes e adultos jovens costumam ser as principais vítimas, mas um fato vem surpreendendo quem trabalha nos programas de combate à doença. “Um dado atípico é que o idoso está contraindo a doença. É uma população onde não costumávamos encontrar e hoje fazemos o diagnóstico”, revela Larissa.

A nova realidade, segundo ela, pode ser explicada na maior expectativa de vida e na melhoria da qualidade de vida das pessoas da terceira idade que costumam ter hoje uma vida mais ativa. “Atualmente, fazemos parcerias com os centros de convivência do idoso e levamos bate papos e orientação até eles”, conta.

Se no passado, homossexuais e usuários de drogas eram apontados como grupo de risco para a doença, no presente, a história mudou e muito. Entre mulheres e homens, por exemplo, o número de casos, no decorrer dos anos, tende a se equiparar. Em Campo Grande, quando foram diagnosticados os primeiros casos de HIV, eram 1 mulher infectada para cada 7 homens infectados. Hoje, são contabilizados 47 casos entre os homens e 12 entre as mulheres, ou seja, o número não dá nem 4 para 1.

“A doença não escolhe orientação sexual nem vício. É um vírus extremamente democrático. Hoje, temos a certeza de que não há estereótipo da doença. Não há grupo de risco, há um comportamento de risco”, ressalta Larissa.

Preservativo

O maior desafio, por incrível que pareça, diz a gerente técnica, é insistir no uso do preservativo, principalmente entre os que se dizem “carecas de saber” sobre o assunto. “Metade dos jovens tem conhecimento sobre a necessidade de se proteger, mas de fato não o fazem. Isso é um tabu ainda para nós. Se dizem estar cansados de saber, por que então não usam?”, questiona.

Enquanto a Aids virou um assunto esquecido na sociedade, Larissa afirma que o trabalho de prevenção continua ativo e sendo bem desenvolvido. Ela lembra que o vírus está andando e formando suas cadeias. “Você pode ter transado com uma única pessoa, mas se ela transou com outras 20, então você também transou com essas outras 20. Não há estrela na testa sinalizando a doença. Não é porque a pessoa tem uma aparência bacana que significa que ela está imune. Estamos todos expostos sem exceção”, dá o aviso.

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