Aplicativo para escolha de forrageira ultrapassa 10 mil downloads

Dalízia Montenário de Aguiar

Embrapa Gado de Corte

Quando o empresário de Curitiba (PR) Marcelo Cortez decidiu entrar na bovinocultura de corte partiu em busca de ferramentas para auxiliá-lo e foi assim que ele encontrou o aplicativo Pasto Certo. Desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte (Campo Grande-MS) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o aplicativo permite o acesso rápido e integrado às características das principais cultivares de forrageiras tropicais lançadas pela Embrapa e parceiros para pecuária de corte. Após um ano de seu lançamento, a ferramenta gratuita ultrapassou a marca de 10 mil downloads e para quem deseja iniciar uma nova atividade, como Cortez, ou simplesmente reformar a pastagem já estabelecida, o Pasto Certo é indicado.

“Como produtor iniciante tenho carência de informações e o aplicativo permitiu esse acesso. O mercado de hoje exige uma tomada de decisão muito rápida e ferramentas como essa, dinâmica e amigável, ajudam muito”, destaca Cortez. Um dos idealizadores da proposta, o pesquisador em melhoramento genético de pastagem, Sanzio Barrios, acrescenta que “as informações estão dispersas, dificultando comparações e o fácil acesso pelos usuários finais das tecnologias”. 

Para ele, também há carência em dados técnicos para subsidiar a tomada de decisão, o que influencia não somente na escolha da cultivar como no seu correto manejo. Outro ponto detectado pelo agrônomo é em relação às cultivares Embrapa lançadas recentemente, como BRS Quênia, BRS Tamani e BRS Ipyporã. “Nesse caso, a situação é mais crítica, com pouco conhecimento levado a produtores e técnicos”, ressalta. O cenário toma forma ao se observar o mercado legal de sementes forrageiras no País, o qual movimenta ao redor de R$ 1 bilhão/ano, segundo a Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), e as cultivares de braquiárias e panicuns representam cerca de 90% dos pastos cultivados. Das disponíveis, 80% são tecnologia Embrapa. 

Por isso, a percepção de Cortez é compartilhada pelos técnicos Rodrigo Medina Lopes, do Grupo Facholi uma das 31 empresas da Unipasto, licenciada para a comercialização das gramíneas; e Fernanda Lopes de Oliveira, do Sistema Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). Por ser um aplicativo off-line, Lopes destaca a utilização a campo, onde muitas vezes a rede de internet é falha. O técnico já capacitou sua equipe comercial e acredita no melhor posicionamento dos capins, a partir do conhecimento detalhado oferecido por meio do Pasto Certo.

“Assim que o aplicativo foi lançado baixei para usar no campo e passamos adiante. Hoje os técnicos dos Programas de Assistência Técnica e Gerencial do Senar/MS o conhecem e utilizam, quando necessário”, recorda Fernanda Oliveira. Para a médica-veterinária do Sistema Famasul, a ferramenta permite que o técnico interaja com o produtor, apresentando, “de forma simples o tipo de capim que ele possui na propriedade, sanando suas dúvidas e ajudando-o a diferenciar os pastos”. Ela e Lopes enxergam o Pasto Certo como um colaborador a mais para o manejo técnico e correto da bovinocultura de corte e leite.

Uso e interface – Após a instalação, o usuário encontra a lista de espécies de cultivares, Brachiaria e Panicum maximum. São dez braquiárias – BRS Tupi, BRS Piatã, BRS Paiaguás, BRS Ipyporã, Humidicola comum, Marandu (braquiarão ou brizantão), Xaraés (MG-5 Vitória ou Toledo), Basilisk (braquiarinha ou Decumbens), Llanero (Dictyoneura) e Ruziziensis; acompanhadas de seis panicuns – BRS Tamani, BRS Quênia, BRS Zuri, Massai, Mombaça e Tanzânia. 

Para cada cultivar há recomendações, restrições e detalhes relacionados à identidade, como origem e significado do nome; morfologia, com hábito de crescimento e arquitetura da folha; agronômico, como tolerância a acidez do solo; pastejo animal, com ganhos de peso na seca e nas águas; uso em sistemas integrados, com informações para consorciamento; e estádio juvenil, como altura da planta e formato do colmo. Além de Barrios, essas informações técnicas tiveram a colaboração das melhoristas Cacilda do Valle, Liana Jank e Mateus Figueiredo Santos. Valle e Jank são pioneiras no melhoramento de braquiárias e panicuns no Brasil, respectivamente. (Imagens Tela Entrada e Tela Detalhamento Capim)

Outra possibilidade são as comparações, por meio de filtros e a critério do usuário. Simultaneamente, é permitido comparar quatro cultivares para até 107 características disponíveis. (Imagem Tela Comparativo 2)

O software para dispositivos móveis permite o envio de dúvidas, sugestões e críticas à equipe responsável. “O objetivo é proporcionar melhorias no aplicativo e aproximar-se dos usuários”, afirma Barrios. “A prática já permitiu corrigir bugs e ajustar problemas na instalação em alguns celulares”, conta Figueiredo, especialista em panicuns. Um deles, aliás, detectado por Cortez, que ao lado de Barrios e Figueiredo resolveram a inconsistência.  

O produtor Marcelo Cortez encontrou o app na loja virtual Google Play e o instalou em sistema operacional Android. A demanda para iOS é sentida pelo melhorista de braquiárias Sanzio Barrios e mencionada por Fernanda Oliveira e Rodrigo Lopes. A previsão de lançamento é para este primeiro semestre. Como o sistema Android corresponde a cerca de 93% do mercado (Olhar Digital, 2017), os pesquisadores focaram, inicialmente, nele.  Além de iOS, versões em inglês e espanhol também serão realidade nos próximos meses.  

Entre as melhorias mais recentes está a opção “Onde comprar sementes”, que dispõe de lista das empresas associadas à Unipasto, localização das mesmas e possibilidade de contato. A funcionalidade foi apresentada durante a Dinâmica Agropecuária – Dinapec, vitrine tecnológica que acontece, anualmente, na Embrapa em Campo Grande (MS), ocorrida na última semana.

O aprimoramento continua e passa pela inserção de mais gramíneas e leguminosas, aprofundamento de determinadas características e transformar o app em ambiente virtual participativo. A equipe analisa cada caso e garante que até o final do ano mais novidades estarão na tela do Pasto Certo. Para os pesquisadores, o ganho final é “promover um aumento da eficiência do sistema produtivo (maior produção de carne e leite por unidade de área), menor emissão de gases de efeito estufa e melhor conservação do solo e infiltração de água”.