Influenza veio para ficar, temem pesquisadores norte-americanos

O ineditismo mencionado acima não significa que os EUA nunca tiveram doença. Porém, todos os casos anteriores foram esporádicos e pontuais, ou seja, não sofreram disseminação, sendo imediatamente controlados, além de terem atingido muito pouco a avicultura comercial. Não é o que vem ocorrendo agora, já que cerca de 1 milhão de perus foram ou vem sendo submetidos a sacrifício sanitário após a detecção do vírus em granjas comerciais de vários dos estados já atingidos. E, no caso mais recente, de Wisconsin, pela primeira vez o vírus da IA atinge um plantel comercial de frangos, afetando granja com cerca de 200 mil cabeças.

Não só por essas novas e ameaçadoras características, alguns pesquisadores norte-americanos temem que o vírus tenha vindo para permanecer nos EUA. E um outro indicador que reforça essa tese vem da constatação de que o vírus em circulação no país contém uma combinação de genes europeus e asiáticos.

“Isso é absolutamente incomum, pois os oceanos e os padrões das correntes migratórias norte-sul representam barreira natural à socialização entre as aves silvestres desses dois continentes”, afirma o Dr. David Halvorson, professor de medicina aposentado da Universidade de Minnesota e pesquisador da Influenza Aviária.

A única possível exceção estaria na Sibéria e no Alasca, lembra Halvorson, acrescentando que, mesmo assim, são mínimas as chances de uma eventual troca de material genético naquela região.

“Mas como os vírus já estão aqui, será difícil nos livrarmos deles”, completa, aparentemente resignado com a possibilidade de os “novos vírus” (bem mais patogênicos do que todos aqueles que circularam anteriormente ou ainda circulam em território norte-americano) virem a dominar o ambiente. “Se isso ocorrer, os surtos nos planteis domésticos irão se intensificar e persistir indefinidamente”.

Lembrando que as aves migratórias são hospedeiras naturais do vírus, Hon Ip, Diretor do Laboratório de Diagnóstico Virológico do Centro Nacional de Saúde da Vida Selvagem (Madison, Wisconsin, EUA), concorda com a avaliação de Halvorson: “Como é impossível eliminar a infecção das aves silvestres, os avicultores precisam descobrir como manter o vírus fora de suas instalações”.

Essa, por sinal, é a expectativa presente em toda a comunidade técnico-científica avícola, não só nos avicultores. Pois, como destaca Beth Thompson, do Conselho de Saúde Animal de Minnesota, “em termos de biossegurança, temos feito tudo o que é possível. Mas já não é o suficiente: precisamos descobrir técnicas melhores”.

Michael Osterholm, Diretor do Centro de Investigações de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, diz que, a despeito de reconhecer-se que a disseminação do vírus vem ocorrendo através das aves silvestres, não se tem a mínima ideia do porquê o novo vírus tem encontrado tanta facilidade para driblar medidas de biossegurança que até agora funcionavam muito bem.

Osterholm suspeita que outros fatores estejam envolvidos no processo. Daí afirmar ser necessário um processo de investigação rigoroso e custoso para se descobrir o que realmente vem ocorrendo. Enquanto isso, a avicultura terá que conviver com o vírus, pois, conforme o próprio Osterholm, “os recursos disponíveis são tão escassos que, provavelmente, não conseguiremos obter a resposta de que necessitamos para entender o que vem ocorrendo”.

Sob esse aspecto, Osterholm é incisivo: “como os sistemas de biosseguridade se baseiam em um modelo no qual os surtos de Influenza Aviária não ocorriam com a frequência atual, tornou-se crucial responder, especificamente, como o vírus consegue infectar com tanta facilidade os plantéis comerciais. Sem essa resposta específica, os produtores avícolas continuarão incapazes de deter futuros casos da doença”.

Autoria: Avisite