Tecnofam 2016 ultrapassa as fronteiras de Mato Grosso do Sul

Nem mesmo a chuva que insistia em aparecer durante os três dias da Tecnofam 2016 tirou o ânimo de agricultores familiares, estudantes, professores, acadêmicos e profissionais da assistência técnica. De 11 a 13 de maio, passaram pela Embrapa Agropecuária Oeste 1500 participantes, atendendo a expectativa da organização do evento. A promoção do evento é da Embrapa Agropecuária Oeste. A realização é da Embrapa, Agraer, Sepaf, Senar/MS e Prefeitura Municipal de Dourados, através da Secretaria Municipal de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Semafes).

Além do público de Mato Grosso do Sul, onde foi realizada a Tecnofam (Tecnologias e Conhecimento para Agricultura Familiar), vieram também pessoas de locais que fazem fronteira com o Estado: Mato Grosso e Paraná, assim como dos países vizinhos Paraguai e Bolívia. “Esta segunda edição é a consolidação da Tecnofam como referência de evento em agricultura familiar e nos mostra que pode transcender os limites de Mato Grosso do Sul para outros locais do Brasil e até de países vizinhos que tenham características semelhantes ao do Estado, como clima e solo”, disse Guilherme Asmus, pesquisador e chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste.

Ele menciona também que a articulação entre governos estaduais, municipais, Senar e Embrapa foram cruciais para o sucesso do evento, que foca na transferência de tecnologias adequadas ao agricultor familiar. “A permeabilidade da Agraer e do Senar no meio rural é imprescindível para se chegar ao produtor”, falou Asmus, acrescentando que as políticas públicas são essenciais para alavancar o negócio agrícola de base familiar.

O chefe adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Auro Otsubo, contou que o evento também foi o local para as reuniões institucionais para ações práticas em diferentes assuntos. Entre os temas debatidos estão o curso de qualificação em erva-mate para assentados de Amambai (Embrapa, Agraer e outros); a formatação de um protocolo técnico para a produção de material para propagação de mandioca com qualidade no sul de MS (Embrapa, Sepaf, Agraer e empresários de produção de amigo de mandioca), preparação do evento Agroecol no fim deste ano (Embrapa, UFGD, Uems e outros organizadores) e a organização do Agroecoindígena em Miranda (Embrapa, Uems, UFGD, Governo do Estado, entre outros). A formatação de uma central agroecológica em Dourados, MS, foi o tema da reunião entre Semafes (Secretaria de Agricultura Familiar e Economia Solidária) e Apoms (Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul).

Diversificação

Um dos pontos ressaltados pelos organizadores é que a diversificação de temas da Tecnofam reflete a realidade do agricultor familiar no campo. Fernando Lamas, secretário da Secretaria de Estado de Produção e Agricultura Familiar do governo de MS, disse que fatores de produção devem estar associados a tecnologias para o sucesso da agricultura, independente do tamanho da propriedade. “A Tecnofam é uma oportunidade ímpar para o agricultor familiar aprimorar as atividades que já têm no campo e incorporar novos processos ao negócio. O desafio são as instituições de pesquisa, de ensino e de extensão rural proverem informações e conhecimentos para trazer melhorias ao campo”, conclui Lamas.

A presença de jovens filhos de agricultores familiares interessados nas tecnologias que podem ser incorporadas no campo também chamaram a atenção – com presença não só de acadêmicos, mas também de estudantes de escolas agrícolas e de ensino médio. “Isso é positivo, porque mostra a intenção do jovem de se fixar no campo através de novos conhecimentos para melhorar a produtividade, gerar renda e melhorar a qualidade de vida”, analisa Guilherme Asmus. Ele também destaca que as agricultoras familiares marcaram presença tanto conhecendo as tecnologias nas mostras, no campo, nas oficinas assim como na Feira da Agricultura Familiar. “No geral, isso mostra a família interessada em aprimorar os conhecimentos para colocar em prática no campo”.

Um exemplo disso é o produtor rural Leandro Silva, de Itaquiraí, MS, que fez o curso de enxertia de mudas de frutíferas para melhorar a produção de seu pomar. “A dificuldade em fazer mudas lá em casa era demais. Nesse curso aqui na Embrapa, tive a possibilidade de alcançar esse conhecimento e vou levar para casa, desenvolver na minha propriedade e tentar melhorar pomar e fazer com que elas produzam melhor. Vou aproveitar e passar o conhecimento para meus vizinhos e meus pais”, afirma.

Para Flávio Ferreira, coordenador regional da Agraer de Dourados, “já se foi o tempo em que o produtor cultivava só milho e soja até a beira da casa. Na Tecnofam eles demonstraram isso. Eles têm curiosidade, conversam com os técnicos para saber a viabilidade econômica. O evento é um estímulo para esses produtores”, afirmou Ferreira.

Muitas das tecnologias que foram demonstradas a campo têm origem na Embrapa Agropecuária Oeste e em outras Unidades da Embrapa: Algodão, Amazônia Ocidental, Arroz e Feijão, Gado de Corte, Gado de Leite, Hortaliças, Instrumentação, Mandioca e Fruticultura, Meio Norte, Milho e Sorgo, Pantanal, Suínos e Aves, Tabuleiros Costeiros. Também têm tecnologias desenvolvidas pela Agraer, Uems, UFGD e de empresas expositoras.

Entre as tecnologias estavam presente a fixação biológica de nitrogênio em feijão, calda bordalesa, calda sulfocálcica, aquaponia, rizotrons, prensa manual de fenação, galinheiro móvel, preparador e selecionador de material de plantio de mandioca, Caixa Embrapa para Frutas e Hortaliças, desperfilhador de bananeiras por roto-compressão, alimento alternativo para aves, consórcio milho-braquiária, ILP e variedades de capim para gado leiteiro com destaque para a BRS Kurumi, adubação verde, sistema agroflorestal, variedades de feijão e de mandioca, sistema de produção envolvendo diversas culturas com a mandioca, manejo da cultura da goiabeira, Sistema Horta Bios, uso eficiente da água através da irrigação, manejo sanitário do gado leiteiro, manipulação de plantas medicinas, tapioca colorida, algodão colorido, entre outros.

Tendas de utilidade pública – O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) atendeu o público e tirou dúvidas sobre o mosquito causador da dengue, zika e chikungunya. O Senar/MS divulgou os programas de aprendizagem rural disponibilizados para homens e mulheres do campo.

O Sebrae/MS levou à Tecnofam 2016 a vaca móvel, um laboratório para monitoramento da qualidade do leite; o rufião, para diagnóstico de gestação e avaliação ginecológica; e o agromóvel, que permite aferições in loco das condições de cultivo e das culturas em produção de forrageiras.E o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) estava com o CAR Móvel para orientar sobre a correta aplicação das legislações ambientais.

Sílvia Zoche Borges
Embrapa Agropecuária Oeste