Com agricultura irrigada Mato Grosso do Sul se destaca como um novo polo de crescimento econômico

Por Guilherme Barbosa, Especialista Agronômico da Netafim Brasil

No coração da economia sul-mato-grossense reside a agropecuária, historicamente adaptada às condições de sequeiro, onde a dependência das chuvas é vital. No entanto, uma revolução está em andamento, impulsionando um crescimento notável: é a agricultura irrigada. Esse método produtivo é baseado principalmente nas chuvas, mas se adapta à falta de água usando sistemas de irrigação para suprir as necessidades hídricas das plantas.

De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), o Mato Grosso do Sul destinou 265 mil hectares à irrigação (representando 3,2% da área irrigada nacional). Destes, 205 mil hectares são dedicados a canaviais que adotam a fertirrigação, um método que aplica água de forma moderada anualmente. Parte dessa água é obtida através da vinhaça, um subproduto industrial rico em nutrientes, aplicado nos canaviais.

Os dados apresentados pela Agência Nacional de Águas (ANA) no âmbito do “Água na Agricultura Irrigada”, dos 60 mil hectares restantes, 29 mil abraçam sistemas de pivô central, amplamente empregados para culturas anuais como soja e milho, outros 11 mil hectares são reservados para o cultivo de arroz irrigado por inundação, enquanto 10,5 mil hectares de cana-de-açúcar são irrigados diretamente (não apenas por fertirrigação). Além disso, 9,5 mil hectares englobam sistemas de irrigação na região, como a irrigação localizada e por sulcos.

Segundo relatório de 2014 do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Mato Grosso do Sul se destaca ao plantar mais de 4 milhões de hectares em soja e mais de 60 mil hectares em fibras. Em termos de áreas de alta aptidão, Mato Grosso do Sul ocupa a segunda posição, abrangendo 2,4 milhões de hectares. No entanto, a irrigação é explorada apenas em 5,4% do potencial total, diminuindo para 1,2% quando desconsideramos as áreas de cana-de-açúcar fertirrigadas, focadas principalmente na administração de nutrientes.

Nesse contexto, a tecnologia de irrigação desempenha um papel fundamental. O sistema de gotejamento subterrâneo, por exemplo, é uma abordagem que tem revolucionado a forma como a água é aplicada nas culturas. Ao possibilitar a liberação precisa e controlada da água diretamente às raízes das plantas, este sistema minimiza desperdícios, reduz custos com energia e aumenta a eficiência hídrica.

Exemplo notável é uma fazenda localizada em Itaporã (MS), que vem investindo na tecnologia de gotejamento subterrâneo e, nesta safra, colheu satisfatórios resultados nas suas áreas irrigadas, tanto nas culturas de soja quanto no milho segunda safra.

Fonte: Netafim, 2023

No que diz respeito à soja, a produtividade média alcançou 87 sacas por hectare na irrigação, em comparação com as 61 sacas por hectare na condição de sequeiro, representando um notável incremento médio de 26 sacas por hectare.

No cultivo de milho da segunda safra, a irrigação também proporcionou aumento de produtividade, sendo em média 149 sacas por hectare contra as 115 sacas por hectare no sequeiro, incremento médio de 34 sacas por hectare. A fazenda contou para esta safra 2022/23 com 350 ha irrigados por gotejamento subterrâneo, e para esta próxima safra terá mais de 500 ha de sua área irrigada com a tecnologia.

A disponibilidade de recursos hídricos em Mato Grosso do Sul fortalece ainda mais essa tendência. Dados do SNIRH demonstram que a irrigação é responsável por apenas 21,7% da água captada, bem abaixo da média nacional, de 52%. A vazão total captada (37,3 m³/s) é modesta em relação à abundância de recursos hídricos nas bacias hidrográficas. O Plano Estadual de Recursos Hídricos de 2010 revela diversas bacias com vazões consideráveis e fontes de água subterrânea. Por exemplo, a bacia do Rio Ivinhema ostenta uma vazão média de 544,5 m³/s, a maior na região do Paraná, seguida pela bacia do Rio Pardo, com 529 m³/s. Esses números indicam que a vazão utilizada para irrigação (cerca de 8 m³/s) pode ser significativamente aumentada, com uma gestão eficiente para equilibrar a disponibilidade ao longo do tempo e do espaço, assegurando o fornecimento de recursos hídricos para diversas finalidades.

A transição para uma agricultura irrigada mais eficiente é essencial para a realidade atual e futura. Mato Grosso do Sul tem a chance de aproveitar as oportunidades desse setor, incluindo as novas tecnologias como o sistema de gotejamento subterrâneo, mantendo um equilíbrio entre desenvolvimento econômico, responsabilidade ambiental e benefícios sociais. A perspectiva de uma agricultura irrigada sustentável e produtiva está ao alcance, promovendo um futuro mais resiliente para o estado e suas comunidades.