COP27 e o compromisso em reduzir a emissão de CO2 Como a irrigação por gotejamento pode ajudar o Brasil a cumprir essa meta?

Camila Crepaldi

Deu início em 6 de novembro de 2022 a 27ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 27, em Sharm El Sheikh no Egito. Nessa conferência o Brasil ratificará um papel importante, e por que não dizer de destaque, no alcance do objetivo em reduzir as emissões de CO2 em 45% até 2030 e neutralidade até 2050.

Se analisarmos a matriz energética brasileira, o país tem 33,1% de sua energia vinda de derivados de petróleo. No entanto, temos uma grande “carta na manga”, a cana-de-açúcar.

Atualmente, a energia oriunda de derivados de cana-de-açúcar representa 19,1% de nossa matriz energética, resultado do plantio de apenas 10 milhões de hectares desta cultura. Para aumentar essa percentagem não precisamos nem aumentar a área de plantio, basta aumentar a nossa produtividade. Isso porque ela é extremamente baixa. Segundo a Canaplan, na safra 2022/2023 a produtividade ficará ao redor de 75 ton/ha. Apenas relembrando que o potencial dessa cultura é de 400 ton/ha.

Das várias tecnologias empregadas, a irrigação é a única que pode aumentar em mais de 50% a produtividade dos canaviais. No entanto, a água também deve ser considerada como um insumo e junto a isso como um bem natural, vital e de grande importância para a sociedade. Nesse ponto, o gotejamento é a tecnologia de irrigação que mais se destaca, pois além de ser a mais nova, é, segundo estudos da Embrapa, a tecnologia que possui maior eficiência de aplicação quando comparada às demais. E é graças a isso que a Netafim, faz parte da CEO Water Demandate da ONU.

Mas, por que isso é importante? Os cálculos são básicos. Como premissa temos que considerar que o uso do etanol para substituir a gasolina diminuiria em 73,3% as emissões de carbono equivalente por ano, de acordo com o padrão do IPCC, ou 78,1%, quando considerado o modelo dos cientistas brasileiros.

Como dito anteriormente, com o uso da irrigação localizada a produtividade pode aumentar em torno de 50% da produtividade histórica da área. Sendo assim, considerando que uma área qualquer produz 100 ton/ha e que em média 1 ton de cana-de-açúcar produz 80 litros de etanol, chegamos a produção de 8.000 litros de etanol/ha. Caso opte em utilizar a irrigação por gotejamento e considerando um aumento mínimo de 50% na produtividade, teremos: 150 ton/ha x 80 litros de etanol, seria igual a 12.000 litros de etanol/ha ou seja 50% a mais de etanol, com potencial de redução de 78% de carbono para atmosfera.

Além da produtividade, há outras vantagens que podem nos ajudar a realizar a produção de cana-de-açúcar de maneira mais sustentável. E é para isso, que eu gostaria de chamar a atenção. Recentemente foram concluídos 2 trabalhos que mostram que através do uso da irrigação por gotejamento podemos reduzir em mais de 50% as emissões de CO2 para a natureza.

Nesse estudo, realizado em Minas Gerais, foi comparado a irrigação por gotejamento versus a testemunha por salvamento e mostrou que com o uso do gotejamento a emissão de CO2 reduziu de 0,161kg CO2 /kg de cana produzida para 0,077kg de CO2/kg de cana produzida. E isso significa que se a Usina adotasse o gotejamento em 100% da sua área, deixaria de emitir 262 ton de CO2 por ano.

Para dar continuidade nesse trabalho, foi desenvolvido um estudo com os mesmos parâmetros da emissão de carbono, mas desta vez enquadrando para uma realidade brasileira, o Renovabio. Mas o que é o Renovabio? Trata-se de um programa de estímulo à produção de biocombustíveis. Através desse estudo e lançando os dados na calculadora, a Renovacalc chegamos ao resultado que utilizando o gotejamento a Nota de Eficiência Energética Ambiental (NEEA) foi de 35 para 61g de CO2 eq/UM.

É através desses estudos que podemos concluir que a irrigação, principalmente por gotejamento, em cana-de-açúcar pode ajudar o Brasil a ser o grande protagonista no compromisso assumido pelo globo em reduzir as emissões de CO2