Douradenses não creem que estupro tem a ver com roupa de vítimas

Para douradenses, roupas curtas não tornam mulheres culpadas e justificam crime (Foto: Ademir Almeida)

A pesquisa divulgada no dia 27 do mês passado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) chocou o país ao revelar o que alguns brasileiros pensam sobre o crime de estupro. A afirmação “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, recebeu apoio de 65% dos 3.809 entrevistados.

 

O Dourados News foi às ruas para saber se na cidade o pensamento é o mesmo, e a maioria dos entrevistados se posicionou com indignação quando questionado sobre o tema. Ainda de acordo com a pesquisa do Ipea, 58%, concordaram, total ou parcialmente, que “se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros”.

 
Ana Caroline Rodrigues da Silva, 27, diz que tema é complexo, mas nada justifica a prática do crime
(Foto: Ademir Almeida)

“Isso [o estupro] não tem absolutamente nada a ver com roupa. O comportamento errado e que tem que ser condenado, é do agressor, a roupa não exime ele da culpa desse crime. É uma colocação ridícula, muito baseada no machismo que ainda persiste na sociedade”, disse a gerente de vendas Danielle Barbosa dos Santos Ferreira, 20.

 

A auxiliar de tesouraria Ana Caroline Rodrigues da Silva, 27, diz que o tema é complexo, e que nada pode ser julgado pelo todo. Segundo a opinião dela, muitas mulheres acabam se colocando em risco pelo comportamento, e não pela roupa. “Ainda assim, acho que um comportamento mais inconsequente, tipo de provocação, não justifica o crime”, disse Ana.

 

Do lado dos homens o discurso também foi de indignação. Técnico em eletrônica, Bruno Camata, 22, diz que a roupa mais curta e decotada deixa a mulher mais atraente e chamativa, mas isso não significa uma porta aberta para o abuso.

 

“O cara tem que saber sentir a atração e partir para a conquista. Quem comete estupro é doente. Não tem porque tentar justificar o crime com a roupa ou o comportamento da mulher. Entre você se sentir atraído e estuprar é um abismo grande, de consciência”, disse o rapaz.

 

O pedreiro Claudionor Correa, 63, lembrou das filhas de 19 e 23 anos ao ser abordado pela reportagem. “Não tem como justificar um crime desse. Eu sempre falo para as minhas filhas tomarem cuidado, mas nada tem a ver com a roupa delas. Estupro é algo doentio, horrível”.

 
Bruno Camata, 22, também acredita que a roupa nada tem a ver com a agressão (Foto: Ademir Almeida)

Delegada titular da Deam (Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher) de Dourados, Rozeli Dolor Galego diz que a maioria dos casos registrados na cidade tem a ver com a condição de vulnerabilidade da vítima, e não com a roupa que ela veste.

 

“Condição de vulnerabilidade como o horário em que andam sozinhas pelas ruas. Mas, é importante dizer o quanto é preocupante esse pensamento de que roupa mais curta é motivo para estupro. A mulher tem que ser respeitada em qualquer horário e lugar, independente de qualquer coisa”.

 

Mato Grosso do Sul já teve mais de 200 casos em 2014


Segundo o registro de estatísticas da Polícia Civil, Mato Grosso do Sul teve do dia 1º de janeiro ao dia 31 de março deste ano um total de 226 casos de estupro registrados, sendo 169 deles no interior e 57 na capital, Campo Grande. Em 2013, o total foi de 1.203 casos, enquanto em 2012, o total foi de 1.289.

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