Renovação de canaviais com adubação verde

A adubação verde é uma estratégia que vem sendo cada vez mais utilizada pelos produtores que desejam melhorara qualidade física, química e microbiológica do solo, aliando práticas culturais as demais ferramentas como preparo mecânico do solo, utilização de corretivos e fertilizantes minerais. No Brasil, as pesquisas com crotalária estão sendo realizadas por diversas Unidades da Embrapa, nas cinco regiões da nação, e que vem obtendo resultados positivos.

As crotalárias destacam-se por produzir grande quantidade de biomassa,contar com raízes pivotantes, ou seja, possui um sistema de raízes formado por uma raiz central que penetra verticalmente no solo, da qual partem raízes laterais que também são ramificadas, isso favorece a absorção de nutrientes presentes em camadas profundas do solo.Outro benefício é a associação com bactérias, especialmente do gênero Rhizobium, que formam os nódulos e fixam o nitrogênio no solo. Além disso, após o processo de decomposição da biomassa destas leguminosas, os nutrientes serão disponibilizados para o desenvolvimento dos canaviais.

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Cesar José da Silva, explica que a simbiose entre crotalária e rizóbios do solo pode fixar até 180 quilos de nitrogênio para ser utilizada para a cultura que for plantada na seqüência. Ele explica que o uso de adubos verdes na renovação de canaviais é uma tecnologia que está sendo utilizada pelas usinas de Mato Grosso do Sul e muitas vezes substitui totalmente a adubação nitrogenada no plantio da cana.

As crotalárias também podem ser utilizadas em outros sistemas de produção, tanto na rotação de culturas quanto nas entrelinhas de culturas perenes, pomares, entre outros sistemas de cultivo”, salienta Cesar.

Diferentes espécies – Mas, ele destaca que o sucesso da adubação verde, por meio das crotalárias, na renovação dos canaviais está diretamente ligado a escolha da espécie adequada, formas de cultivo e manejo dessas variedades. “É uma leguminosa de rápido crescimento, sendo utilizados mais comumente três espécies: C. spectabilis, C. juncea e C. ochroleuca. A escolha da espécie varia de acordo com os objetivos do produtor”, explica Cesar.

A Crotalária spectabilis é uma espécie de ampla adaptação ecológica, com ação nematicida. Suas plantas são arbustivas, de crescimento ereto e determinado, relativamente precoces, e, quando maduras, têm de 1,0 a 1,5 m de altura, porém, de desenvolvimento inicial lento. Fixa nitrogênio em torno de 100 a 160 Kg/ha-1.
A Crotalária juncea veio da Índia e apresenta boa adaptação às regiões tropicais, além de possuir ação nematicida. As plantas são de rápido crescimento inicial, arbustivas, de crescimento ereto e determinado, produzem fibras e celulose de alta qualidade. Em estação normal de crescimento, podem atingir de 3,0 a 3,5 m de altura. Fixa nitrogênio em torno de 300 a 400 Kg/ha-1.

A Crotalária ochroleuca é uma planta agressiva, rústica e com raízes capazes de romper as camadas adensadas do solo, resistente ao estresse hídrico e que possui ação contra nematóides.
Qualidade das sementes – Cesar também destaca a importância da qualidade das sementes e explica que sementes de baixa qualidade podem ser contaminadas com plantas daninhas que irão infestar a área, proporcionar baixo população de plantas e insucesso na adoção da tecnologia de adubação verde. “Para ter a garantia de que se está comprando sementes com alta qualidade fisiológica e isenta de sementes de plantas daninhas, o produtor deve adquirir sementes fiscalizadas de sementeiros credenciados, que tenham Registro no Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas)”, explicou ele.

Renovação de canaviais – Na renovação dos canaviais, que ocorre a cada quatro ou cinco anos, a adubação verde pode ser cultivada entre os meses de outubro a março, quando o solo não está ocupado com a cana-de-açúcar, beneficiando o novo canavial que será implantado.Dentre as diversas espécies de adubos verdes utilizadas para melhoria dos ambientes de produção de cana-de-açúcar destacam-se as crotalárias que são plantas da família das leguminosas, plantas que se caracterizam por produzir frutos tipo legume (vagem).

Cesar explica que a indicação da hora adequada de se fazer o manejo das crotalárias, ou seja, de executar a prática de eliminar a espécie, é sinalizada quando ela se encontra em sua plenitude de florescimento. Na renovação de canaviais, ele destaca ainda que existem duas formas de manejo para as crotalárias: manejo químico ou mecânico, sendo que a escolha do tipo de manejo mais adequado varia de acordo com a espécie cultivada. O manejo químico, que consiste na dessecação com uso de herbicidas(produtos dessecantes sistêmicos), é o que tem maior rendimento operacional e menor custo, mas não é indicado para a Crotalária juncea, apenas para as espécies Ochroleuca e Spectabilis.

O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Germani Concenço, explica que o controle químico nas usinas é feito com uso do Uniportes, ou seja, são equipamentos de grande porte, com barra de pulverização larga e que alcançam alta velocidade, proporcionando um grande rendimento para a aplicação. “O manejo químico numa área de 2,5 mil ha, por exemplo, em uma usina pode ser feito em poucos dias. Apesar dos custos do manejo químico ser um pouco mais alto que o do manejo mecânico, ele viabiliza que as crotalárias sejam utilizadas na renovação dos canaviais”, salienta Germani.

Já o manejo mecânico, que é feito com o uso de equipamentos, tais como: rolo faca, roçadeira, triturador (triton), grades niveladores e tronco de madeira é indicado para a espécie de Crotalária juncea, que resiste ao controle através do uso de herbicidas.”Isso limita o cultivo dessa espécie, que dá bons resultados em áreas menores, devido ao baixo rendimento do manejo mecânico, que precisa ser aplicado para seu controle”, destaca Germani.

As pesquisas com crotalária na região Sul de Mato Grosso do Sul, voltadas para a renovação de canaviais, foi o tema do Ciclo de Seminários Agrícolas Biosul Embrapa, uma série que contou com a realização de três cursos, viabilizados por meio de parceria com a Agrícola Nova América (Caarapó, MS) e Biosul. Os eventos contaram com a presença de técnicos que trabalham direta e indiretamente com as lavouras de cana-de-açúcar das usinas de álcool de Mato Grosso do Sul.

Christiane R. Congro Comas
Embrapa Agropecuária Oeste