Álcool combustível é principal causa de queimaduras em Mato Grosso do Sul

Mayara Sá
Anderson Oliveira da Silva, 16 anos, diz que não quer saber de churrascos acesos com etanol.

O uso do álcool combustível para acender churrasqueiras é a principal causa de queimaduras em Mato Grosso do Sul. Segundo informações da assessoria de imprensa da Santa Casa, 70% dos casos que dão entrada no hospital ocorrem com o uso de álcool de posto de gasolina. O Corpo de Bombeiros confirma que são muitas pessoas que se queimam com o uso do produto.

Apesar de não ter dados específicos da causa da queimadura, o tenente coronel Joílson De Paula diz que é comum a corporação atender casos de queimados com o uso do álcool. Ele explica que, na maioria das vezes, o problema acontece porque as pessoas são imediatistas e optam pelo álcool combustível porque é mais inflamável e acende a churrasqueira mais rápido. “A pessoa quer fazer o churrasco e não tem paciência para esperar a churrasqueira acender. Ai coloca o álcool de posto porque ele queima muito mais rápido”, afirma.

Ele explica que não é o líquido que queima e sim o gás formado do contato do álcool combustível com o carvão ou a madeira. E este gás ao acender acaba indo pra cima da pessoa. “Ao jogar o álcool no material forma-se um gás, ai quando coloca o fogo ele sobe, podendo queimar quem está perto”.

Foi assim que Mário de Souza Pimentel, 29 anos, de Maracaju, se acidentou. Ele conta que no dia do acidente, um primo viu que havia álcool de posto em uma garrafa pet e resolveu preparar o bife na chapa. Quando o primo foi acender a churrasqueira o fogo foi pra cima dele. “Eu nem queria fazer nada. Ele insistiu. Quando vi o fogo veio para cima de mim e tomou conta do corpo todo. Sai correndo e os vizinhos gritavam: rola no chão, rola no chão”, lembra. Ele está há um mês internado e agora as cicatrizes estão ficando boa.

O jovem, que confirma ter comprado o álcool em garrafa pet no posto, diz nunca mais vai usar etanol para este fim. O colega de quarto, e também queimado com o bife na chapa, Anderson Oliveira da Silva, 16 anos, diz que não quer saber de churrsasqueiras acesas com etanol. Agora só carvão e álcool em gel.

O adolescente se acidentou em 5 de janeiro. A história dele é muito parecida com a de Pimentel. Ele diz que o cunhado estava manuseando o equipamento e que de repente veio um vento e o fogo foi para cima dele. O corpo do jovem ficou quase todo queimado. Ele precisou fazer enxerto de pele e aguarda a cicatrização para receber alta.

Apenas este ano 33 pacientes foram internados na Santa Casa de Campo Grande por causa de acidentes com fogo. As queimaduras, geralmente, de 2⁰ e 3⁰ graus, levam tempo para cicatrizar. Em média, os pacientes ficam um mês internados. Em alguns casos, devido ao calor do fogo os órgãos internos são prejudicados e os pacientes ficam com sequelas permanentes.

O tenente coronel BM De Paula alerta para não utilizar nenhum material que não seja especifico para acender churrasqueiras. Segundo ele, nos supermercados existem produtos fabricados para este fim, e são esses materiais que devem ser utilizados. “Não recomendamos nenhum tipo de líquido combustível para acender churrasqueiras, apenas produtos atestados pelo Inmetro”, diz.

ABNT

Consultor técnico do Sinpetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes), Edson Lazaroto, lembra que a venda de álcool combustível em saquinhos ou em garrafas PET não é recomenda pela ABNT (Agência Brasileira de Normas Técnicas) desde agosto de 2008. A norma diz que a venda de combustível fora do tanque do veículo só pode ser feita utilizando-se recipientes metálicos ou não metálicos, rígidos, certificados e fabricados para este fim e que permitam o escoamento da eletricidade estática gerada durante o abastecimento.

A ABNT não é um órgão regulador, é uma entidade privada responsável pela normalização técnica no país. Portanto, por se tratar de normas técnicas trata-se de uma recomendação de boas práticas, não havendo proibição. Assim, não é necessário haver fiscalização se as normas estão sendo seguidas ou não.

O Sinpetro recomenda seus afiliados que sigam as normas da ABNT, mas ressalta que se trata de norma por isso não cabe a eles verificar se a orientação está sendo cumprida ou não.

Liminar garantia venda

A proibição da venda do álcool líquido com mais de 54º Gay Lussac (43,3 INPM) é resultado de uma decisão judicial que reconheceu a legalidade da resolução RDC 46 de 2002 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que já havia proibido a venda do produto em sua forma mais inflamável. A medida está em vigor desde a última terça-feira (29/1).

Em 2002, a Anvisa publicou a RDC 46/02 que proíbe a fabricação, exposição à venda ou entrega ao consumo, do álcool etílico de alta graduação, ou seja, acima de 54° GL. Mas, logo após a publicação, uma entidade representativa do setor obteve uma decisão judicial que permitia aos s associados continuar comercializando o produto.

No ano passado, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu pela validade da norma da Anvisa e publicou o Acórdão no dia 1º de agosto, com aplicação imediata. A partir da decisão, a Anvisa concedeu um prazo de 180 dias para a adequação do setor produtivo, informando as associações do segmento. O prazo terminou em 28 de janeiro.

A medida atinge apenas o álcool líquido com graduação maior que 54° GL; dessa forma. O álcool nessa graduação só pode ser vendido na forma de gel. Os produtos comercializados para fins industriais e hospitalares continuam liberados. Também pode ser comercializado para o consumidor final o álcool líquido com teor maior que 54° GL em embalagens de no máximo 50 mililitros.

A decisão judicial ainda poderá ser contestada em tribunais superiores. A fiscalização da medida cabe às vigilâncias sanitárias locais e deve ser feita dentro da rotina de cada município.

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